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domingo, 19 de agosto de 2012
Reportagem antiga da Defato: Madeira, arte e música
Madeira, arte e música
30/05/2009 07h37
Luthier itabirano Cássio Cruz produz violas, violões e
baixolões de material envelhecido e vende para todo o Brasil.
Sérgio Santiago
Alguém desprovido de informações ficaria, no mínimo, surpreso ao ouvir de um luthier que restos de prateleira, vigas de pontes de madeira que não servem mais ou resíduos de serraria são excelentes componentes na fabricação de instrumentos musicais de alta qualidade. Pois são com esses materiais que o artista itabirano Luiz Cássio Alvarenga Martins Cruz produz violão, violas e baixolões, desde que se entregou à profissão, em 1983. Um dos únicos na região a trabalhar no segmento, ele conta que tudo começou com o incentivo do pai, José Cruz, marceneiro, e hoje com 82 anos.
Cássio recebeu a reportagem em
sua casa, no bairro Pará em Itabira, para mais de uma das diversas entrevistas
que já concedeu sobre seu trabalho, inclusive para o Programa Terra de Minas,
da rede Globo. Com um sorriso no rosto, ele se sentou num sofá – no cômodo onde
guarda suas obras de arte – pegou uma viola caipira e se prontificou a
responder aos questionamentos. Em meio a uma reposta e outra, uma nota musical
soava do instrumento, parecendo complementar ou legitimar as palavras.
“Madeira reciclada é o que mais
uso”, disse ele, lá pelo meio do bate papo. Antes que surgisse qualquer
pergunta relacionada a alguma causa ambientalista, ele completou: “São as
melhores. Quanto mais envelhecida, melhor é a qualidade do produto final”.
Cássio estava em seu horário de almoço e logo teria de voltar ao trabalho,
pois, apesar de não ter chefe nem precisar bater cartão, para produzir a média
de cinco instrumentos por mês, ele trabalha religiosamente todos os dias e
cumpre horários. A conversa, entretanto, parecia tão agradável que seguia como
se fosse num fim de semana. Até se extrapolou a outros assuntos – relacionados
à música, claro.
Seguiu-se a explicação: “Das
partes dos instrumentos, o braço é de Cedro; as laterais e o fundo são de
Jacarandá ou Canela; e apenas o tampo é de madeira importada do Canadá ou da
Europa”. Ao dizer isto, o luthier lembrou de quando adquiriu uma peça duma
ponte antiga, da região do Carmo, e com ela conseguiu fazer mais de 200
instrumentos. Depois, resolveu substituir os móveis da casa da mãe, diversos
deles, por outros mais modernos e bonitos. E os antigos? (alguém pode
perguntar) Viraram música.
Cássio fez até hoje 365 violas,
violões e baixolões, mesmo tendo parado por uns tempos e voltado a produzir em
2003. E qualquer que seja o modelo, todos são diferentes um do outro, numa
definição que o autor classifica como diferencial. “Artistas profissionais
preferem os instrumentos artesanais pois são únicos. Você pode procurar no
mundo todo que não vai encontrar uma viola como essa”, exclamou, enquanto
contava pequenas minúcias do segredo de sua arte.
Outro detalhe ressaltado é que a
viola – instrumento mais procurado entre suas produções – é a verdadeira
caipira, de 10 cordas, e não de 12, como alguns costumam achar. A proporção das
vendas do luthier é de três para cada um violão. Os baixolões são feitos só por
encomenda, pois poucas pessoas sabem tocar. Os pedidos vêm pela internet, por
correspondentes conhecidos ou através de feiras que Cássio sempre participa. As
exposições de artesanato no Expominas em Belo Horizonte, por exemplo, ele não
perde uma; vai pelo menos quatro vezes ao ano. “É onde mais vendo meus
produtos. Geralmente levo 11 instrumentos, que é o que meu carro cabe, e volto
quase sem nada”, regozija-se.
Viola e Companhia
Nas horas vagas, para completar a
integração total com a música, Cássio Cruz e um grupo de amigos realiza
pequenos shows, com o grupo artístico Viola e Companhia. São apresentações
musicais provenientes de arranjos entre violino, flauta, baixo, percussão e
viola, claro. A ideia era fazer uma orquestra só de violeiros, mas como em
Itabira poucos dominam o manuseio, faltou gente. O fato servirá, inclusive,
como base para uma conversa com a superintendência da Fundação Cultural Carlos
Drummond de Andrade sobre a providência de um professor especializado. Demanda
ele garante que não vai faltar.
Enquanto isso, madeira reciclada
vai se transformando em produtos, que vão sendo exibidos em feiras e destacando
cada vez mais o talento itabirano no cenário nacional.
Luiz Cássio Martins
Luiz Cássio Martins é luthier, um profissional especializado na construção de artesanal de violas e violões.
A palavra luthier é de origem francesa e deriva de luth ("alaúde"). O termo luteria (do francês lutherie) ou luteraria designa a arte da construção de instrumentos de cordas
.
A palavra luthier é de origem francesa e deriva de luth ("alaúde"). O termo luteria (do francês lutherie) ou luteraria designa a arte da construção de instrumentos de cordas
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Experiência
. Violonista com formação erudita (iniciação em 1979, com o
professor Gilvam de Oliveira/Belo Horizonte;
. Músico – violeiro: formação em música popular/caipira
. Luthier desde 1982.
. Professor de iniciação aos estudos de violão.
. Expositor de seus instrumentos musicais no Festival de
Inverno de Itabira e Ouro Preto/Mariana.
. Participação na Exposição Agroindustrial de Minas Gerais,
na Gameleira, Belo Horizonte, e Expocachaça, como expositor de instrumentos.
. Participação na Exposição Agroindustrial de Itabira, no
Parque de Exposições Virgílio Gazire, como expositor de instrumentos.
. Participação do 1º e do 2º Seminário Nacional de Viola Caipira,
como expositor e violeiro.
Cursos
. Participação no Encontro Paranaense de Artesanato, como
luthier.
. Participação na oficina de Viola Caipira, no Festival de
Inverno de Itabira, em 2004 e 2008, com o professor Fernando Sodré.
. Participação de workshop com Marcos Ribas, Paulo Belinat e
Weber Lopes.
. Participação nos festivais de canção itabirana, na década
de 1980.
. Participação de oficina com o pianista Ian Guest.
.
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